Setembro Verde: audiência pública debate situação dos transplantes e transplantados no RS
- Comunica Franciane Bayer
- 22 de set. de 2021
- 4 min de leitura

A falta de informação e mitos envolvendo o processo de doação e transplante de órgãos e tecidos no Estado foram as principais barreiras apontadas durante a audiência pública que debateu o tema, na manhã desta quarta-feira (22), na Comissão de Saúde e Meio Ambiente da ALRS. Proponente da audiência e presidente da Frente Parlamentar de Estímulo à Doação de Órgãos, a deputada Franciane Bayer reforçou a importância do trabalho de conscientizar as pessoas e as famílias. “Falo como alguém que já vivenciou os dois lados, tanto de autorizar a doação de órgãos de um familiar falecido, quanto de ter na minha família um transplantado. Por isso, tenho certeza de que o sim salva vidas e acredito que podemos contribuir para dar uma nova chance às pessoas que aguardam na fila de transplantes, através de um amplo trabalho que desperte a solidariedade e a empatia na sociedade”. A negativa familiar é um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil. Em 2018, 43% das famílias, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), recusaram a doação de órgãos de seus parentes.
A deputada federal Liziane Bayer lembrou que o mês de setembro marcava duas campanhas especiais, a do Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, e o Setembro Verde, de estímulo à doação de órgãos. Disse que seria exigido um esforço extra para se retomar a mobilização perdida durante a pandemia e que a doação era um ato de amor, mas também de responsabilidade humana, de cada pessoa, ao se declarar doador ou de cada família que, ao perder um ente querido, não se esquecia dos demais.
Conforme a presidente da ONG VIAVIDA, Maria Lucia Elbern, a pandemia agravou a situação de quem espera por um transplante. “Em 2019, tínhamos 1400 pessoas na fila. Hoje são 2500 pessoas esperando por um transplante, sendo que o número de doação teve uma queda de cerca de 50%”, afirmou.
O médico André Gorgen, da equipe de transplantes hepáticos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, disse que alguma redução nas doações e transplantes foi de fato necessária durante o manejo da pandemia, até em razão de os transplantados serem pacientes imunossuprimidos, mais sujeitos à infecção pelo coronavírus, e reiterou a necessidade de se “bater na tecla da divulgação” do tema da doação de órgãos. “Precisamos de campanhas que estimulem a doação em vida, em especial de rim, e também sobre o conceito de morte encefálica”.
Também a assistente social Clarissa Folle, com experiência de 20 anos na área de transplantes da Santa Casa de Misericórdia, e a diretora da Escola de Saúde Pública, Teresinha Valduga Cardoso, mencionaram os mitos que dificultam a doação de órgãos. Clarissa contou que ela própria, quando apresentou o assunto à família, sentiu a reação dos familiares de não querer “falar em morte”. Ela aproveitou para divulgar evento, no dia 29 de setembro, em Santa Cruz, sobre o tema.
O chefe do Serviço de Transplantes e Órgãos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Roberto Ceratti Manfro, relatou que o contexto da pandemia levou a uma redução das doações e dos transplantes no mundo todo. Em algumas estruturas, segundo ele, a recuperação se deu de forma rápida, o que não foi o caso do Brasil e do Rio Grande do Sul. “Não estamos ainda numa fase pós-Covid, mas numa fase em que todos os programas de transplantes já estão operacionais dentro de hospitais que estão com possibilidade de realizá-los”, esclareceu, lembrando que houve um período em que todos os procedimentos foram de fato interrompidos.
O presidente da Sociedade de Nefrologia Gaúcha, Dirceu Reis da Silva, chamou a atenção para outro ponto: a crise enfrentada pelas clínicas de hemodiálise que prestam atendimento pelo SUS. Disse que havia hoje 70 clínicas no estado, muitas das quais ameaçadas de fechar. Citou o caso de uma, em Santana do Livramento, que já estaria com data anunciada de fechamento em 29 de setembro. O valor pago pelo Ministério da Saúde para uma sessão de hemodiálise, segundo ele, era R$ 194,00, quando deveria ser de R$ 278,00 para assegurar a sustentabilidade mínima. “A última correção aconteceu em janeiro de 2017 e, desde então, as clínicas que prestam serviço ao SUS lutam para não fechar as portas”, lamentou.
O chefe-substituto da Divisão de Transplantes do Departamento de Regulação da Secretaria Estadual da Saúde, Diego Fraga Pereira, descreveu variações verificadas nos últimos meses, como o incremento importante na fila de transplantes de córnea, que chegou a 900% em determinado momento, e o trabalho de divulgação desenvolvido pelo órgão, assim como o contato permanente mantido com as equipes de procura de órgãos.
O coordenador da comissão intra-hospitalar do Hospital Universitário São Francisco de Paula, de Pelotas, Luciano de Oliveira Teixeira, disse que havia graves carências econômicas e culturais que impediam as famílias de aceitarem a doação de órgãos e que era preciso ampliar a divulgação do tema.
James Cassiano, transplantado cardíaco, de 37 anos, contou como foi receber o diagnóstico de uma cardiopatia grave, em maio de 2019, casado, pai de três filhos, incluindo um bebê de oito meses. Disse que aproveitou a oportunidade para combater a desinformação e, desse modo, salvar pessoas à espera do “sim” de alguma família.
Também se manifestaram na audiência a presidente da Comissão, deputada Zilá Breitenbach (PSDB) e o deputado Dr. Thiago (DEM).
Com informações da Agência de Notícias da ALRS
Comments